A necessidade de repensarmos a coleta do nosso lixo.
- Gustavo Cunha
- 25 de abr. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de mar. de 2020
O Brasil já esteve na liderança mundial na reciclagem de latas de alumínio. Ainda hoje tem local destacado nesse ranking, reciclando mais de 98% das referidas latas, algo que deveria trazer um enorme orgulho para nossa população. Entretanto, infelizmente, a situação é bem mais complexa.
Tenho o hábito de caminhar pela cidade, inclusive no caminho para o meu escritório. Infelizmente o que verifico nessas minhas caminhadas é uma enorme quantidade de lixo nas ruas. A sensação daqueles que caminhamos com habitualidade é que a sujeira aumenta a olhos vistos em nossas ruas e calçadas, apesar de ser cada vez menos comum vermos pessoas jogando lixo deliberadamente nas ruas, como víamos comumente.
Qual será, então, o motivo desse aparente paradoxo?

É justamente a ausência de planejamento para a reciclagem, que faz com que a coleta seja feita sem qualquer organização por pessoas físicas que trabalham na completa informalidade, se sujeitando, inclusive, a situações de trabalho insalubres e perigosas.
Quando os funcionários dos edifícios colocam os sacos de lixo nas calçadas para serem recolhidos, esses sacos vão com toda sorte de resíduos: orgânicos e recicláveis, pois não há cultura para a reciclagem. Em seguida, uma legião de catadores de lixo informais sai rasgando os referidos sacos para selecionarem os materiais recicláveis presentes nos lixos comuns.
Tal situação é extremamente complexa, pois é sabido que existem várias pessoas que retiram o sustento de suas famílias da atividade de catadores de lixo informais, principalmente no momento econômico pelo qual passa o País, com taxas elevadas de desemprego. Mas a pergunta a ser feita é se esse trabalho desempenhado pelos catadores informais de lixo está trazendo benefícios ou malefícios à sociedade e aos próprios catadores.
É natural uma certa consternação sobre a situação dos catadores, cujo sustento depende de suas atividades desempenhadas nas ruas de nossas metrópoles. Mas os aspectos negativos também são nefastos. O primeiro é justamente a sujeira deixada nas calçadas, que se tornam praticamente intransitáveis. O segundo é o enorme risco à saúde dos catadores de lixo, que, sem qualquer equipamento de proteção, reviram o lixo, com metodologia meramente empírica, estando sujeitos os catadores, muitos deles menores de idade, a situações de trabalho insalubres e perigosas.
É fundamental que haja uma alternativa e esta tem que ser proposta pelo Poder Público e abraçada pela sociedade. A catação de lixo tem que dar espaço a uma coleta seletiva obrigatória nos condomínios, com a concessão da atividade a instituições privadas que coletariam o lixo já devidamente selecionado.
O trabalho hoje realizado pelos catadores informais seria desempenhado por empresas que comprariam o lixo dos condomínios e o venderia para as empresas de reciclagem. É uma hipótese na qual lucram todos: os condomínios passariam a ter uma receita extra pela venda do lixo selecionado, o poder público que teria menor custo com a limpeza urbana, pois não seriam rasgadas as sacolas, a população que não teria que conviver com o lixo decorrente das sacolas rasgadas nas calçadas e o trabalho seria melhorado, pois, fora da informalidade, os catadores de lixo teriam trabalho formal com análise de engenheiro de segurança do trabalho, sendo melhoradas substancialmente as condições de trabalho desses nossos concidadãos.
A cidade precisa evoluir nesse sentido. O amerceamento pelos postos de trabalho que deixariam de existir não pode ser motivo para que fosse mantida a atividade dos motoristas e cobradores de transporte alternativo (comumente chamados de kombeiros) no início dos anos 2000 e não pode servir agora como escusa para que fechemos os olhos para os sérios problemas urbanos trazidos à nossa cidade pela prática da coleta de lixo informal que hoje prevalece.
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